Ouvia há pouco o mp3 de "Caminhando" (Geraldo Vandré, ao vivo, no Maracanãzinho - III FIC - 2ª colocada)
Em plena ditadura (set-1968) e contrastando com o refinamento de "Sábia" (de Chico Buarque & Tom Jobim, campeã), Vandré, dispensando a orquestra [que sabia-se, era da Rede Globo], oferecia a "poesia" direta (como um soco na cara) e, apenas com o violão de dois acordes, deu o recado ...
Dizia a letra: "Caminhando e cantando e seguindo a canção / Somos todos iguais braços dados ou não ..."
Inicialmente pegas de surpresa (para, na sequência exigirem a vitória de Vandré), as pessoas presentes ao festival digeriam a ousadia da mensagem: "Há soldados armados, amados ou não, quase todos perdidos de armas na mão / Nos quartéis lhes ensinam antigas lições / De morrer pela pátria e viver sem razão ...". Mas era no refrão que estava o incitamento: "Vem, vamos embora, que esperar não é saber / Quem sabe faz a hora, não espera acontecer..."
Justiça seja feita, Chico Buarque, tb muito censurado à época, deu semelhante recado, a posteriori, com a belíssima "Apesar de você", música de arranjo alegre e elaborado (estratégia?)
No entanto, a cadência hipnótica e mântrica de "Caminhando" e a letra direta e panfletária fez com que a música (que esteve proibida por mais de dez anos, sem tocar no rádio e sem ter, à época, uma gravação que pudesse ser comprada) conservasse sua força misteriosa, mesmo nesses tempos de weblogs, mp3 & internet ... Valeu, Vandré!
[Saiba a quantas anda Vandré (e a sua "Caminhando") nesse link]
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