quinta-feira, outubro 14, 2010

Bullying

[Essa será uma postagem com muito ainda a ser explorado, é, portanto, PROVÁVEL, que, vez ou outra, retorne a ela, com novos adendos...]

Eis o que sucede:

Numa passada-d'olhos na edição 2.175 da Vejinha, deparo-me com a coluna [matéria] de Walcyr Carrasco intitulada Bullying na Família

Sem dúvida, um assunto [em que elogiem-se todos os avanços alcançados] ainda nebuloso, ao qual se tenta colocar luz, principalmente quanto aos seus efeitos, alguns deles já bastante conhecidos, inclusive

Na matéria [coluna] que segue, Walcyr, além de situá-lo [o bullying] dentro de uma família [que no artigo entende-se como sendo família-nuclear, não a família-estendida (tb muito frequente de se encontrar, experiência desse que vos escreve)] - o que por si já é uma abordagem rara [embora longe de ser inexistente] - o faz, analisando os efeitos na vida profissional - isso se se chegar efetivamente a ter uma vida profissional - da pessoa que sofreu essa violência

[É importante tb verificar o volume e teor das cartas que na semana seguinte repercutiu, ou seja, realmente o "fenômeno" ocorre - e é encoberto - com uma frequência (muito) maior que se imagina]

"Fui vítima de bullying familiar e, tirando meu terapeuta, ninguém nunca aceitou esse fato. Os familiares me tacham de ressentida e dizem que eu deveria deixar tudo pra lá, porque ninguém fez por mal. Afinal, irmãos têm de se amar! Os amigos dizem que deve ter sido coisa da minha cabeça, pois não é possível que irmãos mais velhos humilhem os mais novos. Devemos acabar com a hipocrisia e lançar luz sobre um assunto tão importante, que deixa marcas e desunião"

Segue a matéria:

Clique pra retornar ao blog



Certa vez, quando dei uma palestra na Zona Leste da cidade, uma senhora me falou sobre seus dois filhos. Segundo afirmou, o primeiro era mais inteligente.

— Tenho preferência por ele, sim. Seria mentira dizer que não.

A conversa me provocou uma sensação desagradável. Pensei na vida do caçula. Qual seria seu sentimento, ao perceber que a mãe prefere o mais velho? Sou escritor. Imaginei os gestos do cotidiano: reprimendas mais fortes; presentes piores no aniversário ou Natal e talvez até comentários desdenhosos. Tomei consciência de que isso acontece muito mais do que se comenta. Fala-se muito de bullying. Livros abordam violências verbais e até agressões físicas que ocorrem nas escolas. O ataque costuma ser dirigido a quem é de alguma maneira diferente: os gordinhos, os maus esportistas, os nerds, os mais pobres, entre outros. Até um sotaque pode induzir os valentões da turma à chacota. Submetidas a uma pressão constante, as vítimas muitas vezes se rebelam. E dentro da família?

Um amigo passou a infância perseguido pelo irmão mais velho. Tudo era motivo para zombaria e até ataques físicos. A mãe, ausente, não punia o agressor. Hoje os irmãos têm uma relação distante, mal se falam. Agora a mãe se lamenta. Não entende por que os filhos não se dão bem.

— Meu irmão foi meu pior inimigo! Como posso gostar dele agora? — ouvi o mais novo dizer.

A agressão pode se voltar contra um dos pais. Soube de um vizinho que gritava com o pai e o ameaçava por qualquer pretexto porque tinha pouco dinheiro. Não usava drogas. O velho, frágil, não conseguia enfrentá-lo.

Você é um incapaz — dizia o filho. — Nunca soube ganhar dinheiro!

Muitas vezes a própria mãe cria [fomenta] a situação. Uma figura da sociedade, magra e bem vestida, parece esconder sua filha, que é gorda. A garota nunca é vista em companhia da mãe nas festas que ela costuma frequentar. Em represália, veste-se de maneira relaxada. Mal penteia os cabelos.

Minha mãe tem vergonha de mim! — já desabafou.

É difícil tocar nesse assunto. Cada família possui uma dinâmica diferente. Nem sempre as situações são evidentes, mas o(a) atingido(a) percebe o desprezo. Ou a comparação. É comum uma criança de olhos azuis ser coberta de elogios. Ninguém fala do irmão de olhos castanhos. Só a mãe pode ajudar, valorizando os dois.

Ou então um dos membros perde o emprego. A família passa a humilhá-lo.

Não vou sustentar vagabundo! — certa vez ouvi a irmã, secretária, ameaçar o irmão.

Se é difícil encontrar trabalho, a agressão aumenta. E a pessoa deprimida tem mais dificuldade ainda. Perde o prumo.

Pais inventam sonhos para os filhos. Desejam que se tornem bem-sucedidos, talvez famosos. Já vi homem com bebê no colo garantir:

Este aqui vai ser jogador da seleção. E ganhar a Copa!

O bebê sorri, sem saber da cilada. Pode ter pendor para a informática. Talvez nunca seja um craque. Passará horas diante da telinha.

Também já vi pai reclamar:

Sai do computador, moleque! Vai jogar futebol!

O filho passa a ser constrangido. Pressionado. Conheci pessoas inteligentes totalmente desestruturadas, incapazes de se dedicar a uma profissão, por falta de apoio familiar.

Muitas vezes, o que parecem ser gestos de amor, de incentivo, são ameaças porque o filho ou irmão não segue um padrão. É difícil, mas cada família deve abrir sua caixa-preta. Adquirir a coragem de encarar suas falhas. E aprender a trocar a agressão pelo abraço.

[Pela matéria, por ora, chego sucintamente a concluir que "se assim o é em algumas famílias-nucleares", que dirá ocorrendo em famílias-estendidas, inclusive com os novos membros (namorados etc) nela adentrando? É pra se pensar, digerir e ... desabafar!]

---

Cartas sobre a edição 2175 - Confira aqui

ASSUNTOS MAIS COMENTADOS
44%
Walcyr Carrasco

26%
Ivan Angelo

8%
Twitter (capa)

7%
Livraria

15%
Outros

---

Sobre a coluna [matéria] de Walcyr Carrasco
Tenho 35 anos e desde que me entendo por gente meus pais me massacram emocionalmente, dizendo que sou incompetente e não vale a pena investir em mim (“Bullying na família”, 28 de julho). Meu irmão mais novo, sim, é o filho perfeito, que eles sempre pediram a Deus. Meu irmão entrou na onda, seguindo o exemplo dos meus pais, e me trata da mesma maneira. Hoje, mal nos falamos. Evito muito contato para não levar bordoadas verbais. Obrigado por dar voz a nós, que sofremos nas mãos daqueles que mais amamos e que dentro de nossa cabeça deveriam nos amar incondicionalmente.
JOSÉ LUIZ SOARES

Muitos dos que leram essa excelente coluna sentiram revolta em seu coração, por ser impossível voltar no tempo e evitar essas agressões ou mesmo receber hoje o abraço daqueles que os agrediram, pois alguns já partiram desta vida.
ISMAEL KORSOKOVAS

Ao ler a crônica, tive a sensação de estar passando pelo problema de que fui acometido décadas atrás. Tenho 41 anos e, graças a Deus, superei quase tudo, exceto a lembrança do bullying. A única vantagem é que não sou mais uma criança ou adolescente indefeso, desprotegido e covardemente massacrado por outras crianças e adultos.
ALBERTO MORATO KRAHENBUHL JUNIOR

Fui vítima de bullying familiar e, tirando meu terapeuta, ninguém nunca aceitou esse fato. Os familiares me tacham de ressentida e dizem que eu deveria deixar tudo pra lá, porque ninguém fez por mal. Afinal, irmãos têm de se amar! Os amigos dizem que deve ter sido coisa da minha cabeça, pois não é possível que irmãos mais velhos humilhem os mais novos. Devemos acabar com a hipocrisia e lançar luz sobre um assunto tão importante, que deixa marcas e desunião.
SILVIA SAMPAIO

Acredito que falta comunicação entre mim e meus familiares, assim como falta comunicação no mundo todo. É duro enfrentar essa situação, mas foi mais duro ainda ler e saber que tem mais gente que passa por tal sofrimento.
LUANA DE FRANÇA EMÍDIO NAZARÉ

Ser filho é, muitas vezes, uma experiência complexa e dolorosa. E ser o patinho feio da história é ter de administrar um sentimento muito forte: a dor de não ser amado. Creio que preferir um filho é humano, mas esse pai, mãe ou responsável poderia buscar ajuda para administrar melhor esse sentimento, que poderá causar angústia, inércia e depressão.
EUNICE MENDES

O bullying acontece em muitos lares, e muitas vezes pais e familiares nem percebem. A minha pergunta é como acabar com essa prática, se muitas vezes os pais não percebem que estão prejudicando seus filhos. Fui uma criança gordinha e uma adolescente normal, mas, pelos constantes “incentivos” da minha mãe, sempre me via maior do que de fato era. Isso fez com que me tornasse uma obesa mórbida, já que eu, a filha “cheinha”, nunca seria linda e magra como minha mãe foi.
THALITA SILVA

Tenho vivido uns maus bocados desde que decidi estudar numa universidade particular. Durante o ensino médio, eu e toda a família concordávamos com a ideia de que eu estudaria numa universidade pública. Assumindo essa hipótese como uma ordem, dediquei-me no sentido de obter uma vaga através do vestibular. Embora tivesse boas notas e um desempenho positivo nos simulados, não aconteceu. A reação da família foi inusitada. Não recebi apoio, minha dedicação como estudante foi posta em xeque e ninguém admitia haver uma qualidade sequer nessa minha nova opção. De inteligente passei a negligente. Sou atacada como rebelde e irresponsável, apesar de estar me dedicando intensamente para custear sozinha a minha faculdade. Não seguir o padrão que era esperado tem custado cada dia mais caro. Ironicamente, todos os que me julgam estudaram em universidades particulares, algumas até bem menos conceituadas. Por isso, o título da crônica captou a minha atenção imediatamente. Amanhã, minha mãe viaja para dar palestras sobre esse mesmo tema, mas com uma abordagem voltada para o ambiente escolar. Minha família acha que conhece muito bem o assunto. Só não percebe como o mal pode estar do nosso lado. Obrigada por me ajudar a me sentir menos estranha.
MANUELA MALACHIAS

Nenhum comentário: