terça-feira, agosto 03, 2010

03-Ago-1975

O que de relevante teria acontecido nessa data?

Bem, há exatos 35 anos estava indo pela primeira vez ao Estádio do Morumbi...

Tudo bem, tenho uma memória privilegiada - mas, embora marcante, lembrava difusa e fragmentadamente desse acontecimento

Segundo a fonte, a foto é 1969, antes da inauguração de 25-Jan-70 (clique pra ver)

Em minhas lembranças, sabia que era uma rodada dupla, onde, na preliminar, Portuguesa e Corinthians terminaram empatados em um gol e a partida de fundo, São Paulo e Palmeiras, ficando no zero

Nesse parcial apagão de memória, recorri a internet para tentar rememorar aquele que, a mim, foi um dia muito especial, pois numa cajadada só, veria em campo verdadeiras feras do "quadrilátero-de-ferro" [aqui da capital], que [até aquele momento] só "conhecia" das leituras do JT, das transmissões radiofônicas e televisivas - e de álbuns de figurinhas ;o)

Cruzando informações pela internet, a partir da certeza de que era uma rodada dupla, constatei que se tratava duma disputa já do chamado Hexagonal Final, vulgo afunilamento das equipes que se classificaram no confuso regulamento do campeonato paulista daquele ano

Sinceramente, àquela altura, pra mim isso era irrelevante: meu Palmeiras [aquele Palmeiras] era um time tão acostumado a [convincentemente] ganhar títulos [quase escrevi "dar espetáculo" (no bom sentido)] que a coisa era até cansativa, pouco importanto se, num estalar de dedos, o time saísse do tão temido [à época] 4-2-4 para o 4-3-3 - tanto que o Verdão, mesmo "cambaleando" para os padrões daquele Palmeiras, terminaria em 3º lugar na classificação final daquele certame

Foi naquela manhã de domingo que meu falecido tio Hermínio [que era sãopaulino, irmão de minha recém-falecida mãe - e que não tinha muito o hábito de ir a estádios, como, aliás, era (ou ainda é?) a esmagadora maioria do torcedor do SP] me surpreendeu com aquele convite [talvez tivesse tido um rompante com colegas do trabalho (era funcionário público) de que aquele ano seria do SP e, de súbito, resolveu ir - ou, hipótese tb não descartada, me converter (enquanto ainda criança) pros lados do tricolor, não sei ao certo...] - na ocasião, lembro que crianças até doze anos acompanhadas dos pais não pagavam ingresso

A distância de onde moro HOJE ao Estádio do Morumbi [naquela época] evidentemente é a mesma [cerca de 20kms], que em dia de trânsito fluindo [e com semáforos abertos], consegue-se fazer em 30-35 minutos, de carro, andando a 60km/h, que é a velocidade máxima permitida na Radial Leste e demais grandes avenidas "paulistanas" a partir de 1º de abril de 2011 [não, não é mentira - confira]

Naqueles dias, ir ao Morumbi [Jd Leonor, pra alguns] era como ir ao fim-do-mundo: bairro considerado nobre, desabitado, onde começavam a despontar as primeiras mansões

Morumbi, início dos anos 70 ...

... e no final da década (Clique para ampliar)
[Aqui, a "linha-do-tempo" do Estádio do Morumbi, em fotos]


Se bem que, já de 1989 pra cá, ao final da João Jorge Saad, tem-se o Shopping Butantã e um Carrefour tal qual existente a 2kms do meu atual apartamento, ou, contradição das contradições, também o Morumbi não foi poupado da massificação, do boom imobiliário e do popularismo, pois até com favela próxima a condomínios de alto padrão já foi "agraciado"

Será em frente a esse shopping que existirá, até 2013, a Estação Vila Sônia do Metrô... Especula-se que se tornará, a exemplo de Itaquera-Corinthians, Barra Funda-Palmeiras e Canindé-Portuguesa, a estação Vila Sônia-São Paulo [linha amarela, a primeira linha de São Paulo a ser operada por parceria público-privada]

Mas, voltando, lembro que, com alguma relutância de meu tio ante um taxista ávido de lucro, fomos por esse meio ao "longínquo" Morumbi, onde teria de ir em seu colo para não prejudicar [financeiramente] a corrida, pois "de tão longe" os taxistas procuravam acomodar "mais passageiros" pra - de certa forma - "viabilizar" a corrida [a olhos dos usuários], embora matreiramente usassem a "bandeira 2"

Não era o meu caso, mas lembro que era comum se ver pessoas [a quase totalidade homens] indo de sapatos aos jogos de futebol, algo nada estranho para a época, a julgar que meu tio gostava de ficar de terno em casa!

Lembro tb de termos feito o caminho em que se passava em frente ao Palácio do Governo, que já há muitos anos é feito pela Nove de Julho, Eusébio Matoso e trecho da Avenida Morumbi: em dias de clássicos, pelo menos até meados dos anos 90, uma torcida ia por esse caminho, a outra, ia pela Rebouças, Francisco Morato e Jorge João Saad

Ônibus - cada vez mais fadados ao depredamento - saíam do Vale do Anhangabaú e levavam torcedores, segmentando-os por aqueles caminhos...

O caminho da 9 de Julho, quando bem mais à frente bifurcam a Av. Padre Lebret com a Av. Morumbi, admito, emprestava uma aura "especial", meio que "européia" às idas ao Morumbi [mas só sob esse breve e passageiro aspecto], em que pese estarmos àquela época em plena Ditadura [só com o "advento" da Democracia, o Palácio se tornou, em alguns dias e horários, "aberto à visitação pública"]

Palácio do Governo; estádio ao fundo (clique pra ampliar)


Esse "ritual" [essa logística] de alocação de torcedores [no Morumbi] caiu "em desuso" a partir de meados dos anos 90... Creio, será praticamente sepultada com o nascimento do Fielzão [foto-maquete abaixo], tb distanciado em cerca de 20 km da minha residência

Clique na imagem e conheça o entorno da Arena do Timão


Ah, e qual o motivo de tanta insipez com as Arenas Brasileiras? A FPF [o Ministério Público, na verdade], quer jogos duma torcida só, sem bandeiras nem rojões: sendo ao time visitante [não mandante] reservados apenas 5% da capacidade total, que, no caso do Morumbi - como a maioria [quase totalidade] dos estádios pioneiros - conforme determinação do Contru, "encolheu em sua capacidade"

Rememorando: Morumbi, que até meados dos anos 90, havia sido palco de grandes decisões [e outras não tão grandes assim], com mais de 100 mil torcedores - só que para os tempos atuais [e para a Copa de 2014] é um estádio considerado inadequado para os padrões FIFA [Veja o motivo]

Voltando, naquele 03-Ago-75 eu estava radiante, não cabia em mim de tanta felicidade, pois veria ao vivo grandes ídolos como Leivinha, Pedro Rocha, Enéas, Ademir da Guia [Rivelino infelizmente não, pois já havia sido alijado do Parque São Jorge, na decisão do Paulista do ano anterior]

Naquele dia, veria, é verdade, um Palmeiras - habitualmente vencedor - algo desfigurado, com a suspeita de começar a se desmanchar [muitas partidas Dudu nem jogou na temporada de 75] até pq no final do mês novamente disputaria o Ramon de Carranza, de onde gozava de grande prestígio; e os rumores das saídas de Leivinha e Luis Pereira para o futebol espanhol eram fortes, tanto que, não me recordo porque, Luis Pereira nem jogou naquele dia e Leivinha, embora entrasse jogando, fôra substítuido por De Rosis, que alguns diziam ser seu sucessor, fato, que com o passar dos meses, não se verificou [não chegou nem perto, na verdade]

Reveja aqui os gols da partida decisiva do Carranza-1975 [e outra, de 1994] contra o Real Madrid

Lembro que eu e meu tio ficamos no meio da torcida do Corinthians(!), extremamente fanática naquela época [pela escassez de títulos]

O Morumbi naquele dia estava equilibradamente dividido: do local da arquibancada onde estávamos [bastante alto na minha percepção] - do outro lado (o lado "filmado" pelas câmeras das TVs) - via-se as torcidas de Palmeiras e Portuguesa; ao lado, a torcida do São Paulo, que tinha a fama de nunca ir aos estádios mas, naquele dia, estava em bom número pois dali a 10-15 dias estaria fazendo as finais do Paulistão-1975

E a saudação que as torcidas faziam aos times quando entravam em campo era uma coisa, no mínimo, espetacular: grandes e pequenas bandeiras, rojões e fogos de artíficio, bumbos e baterias, confetes... Serpentinas...

Naquela oportunidade, calculo [num chutômetro] que o público total do Morumbi tenha ficado em torno das 65-70 mil pessoas, quase a capacidade máxima do estádio HOJE [para ter idéia do "encolhimento", a título de exemplo, Santos e Palmeiras no PACAEMBU, em 11/12/1977 (partida que tb me lembro muito bem, pois o estádio estava literalmente abarrotado e dividido), tiveram público total acima de 70 mil pessoas!]

O próprio Morumbi, em outubro de 1977, recebeu o maior público de sua história [em eventos futebolísticos], no dia em que, por uma das finais, a Ponte Preta bateu o Timão por 2 x 1: mais de 146 mil pessoas, partida em que, provavelmente a exemplo da desse post, também estava presente meu tio Domício - sim, ele, o arquifamoso fotógrafo-de-campo Domício Pinheiro, de memoráveis registros iconográficos

Sempre com a fama de estar no lugar certo, na hora certa
[No caso da foto, no alambrado do Pacaembu]

Tio Domício que fôra "responsavél" por colocar meu pai para trabalhar no Estadão, onde fizeram carreira [bons tempos esses das "relações empregatícias", principalmente com relação a graduações e pós-graduações que são reféns do emprego]

Hoje imagino que, depois desse jogo, papai e tio Domício, cada um em sua área, estariam indo no dia seguinte, 2ª feira, trabalhar na recente "nova-sede" do Estadão, que no ano de 1975 já havia mudado da Major Quedinho [onde hoje é o Hotel Granada] para a Marginal do Tietê

Estadão e JT até meados dos '70 ...

... e já na nova [e atual] sede, como naquele 02-Ago-75

Mas, voltando, guardadas as proporções, foi muito impressionante e impactante ver a vibração e barulho da torcida da Lusa, que tinha aberto a contagem com gol de Enéas

Mais adiante, o Corinthians empataria e eu e meu tio "comemoramos comedida e dissimuladamente" o gol para evitar suspeitas - afinal "seria uma tragédia" caso descobrissem que ali estavam um palmeirense e um sãopaulino, tão aflorados que andavam as animosidades dos corintianos

Foram dois jogos relativamente amarrados, onde, do alto dos meus incompletos onze anos, se via uma Portuguesa tão forte e competitiva quanto havia sido dois anos antes, em 1973, quando foi à final [tb decidida nos pênaltis] e dividiu o título com o Santos de Pelé

Na verdade, a Lusa quase engrossou pro lado do São Paulo, que acabou campeão nos pênaltis mais por catimba do Waldir Perez que por visível superioridade tática


A Lusa, tal qual em 73, mais uma vez decidindo nos pênaltis


É questão de pesquisar na Wikipédia o quanto a Portuguesa foi forte naquele certame

Curiosamente [mas não tão estranhamente assim] o público da final mal chegou a 58 mil pessoas, fato compreensível pois, àquela altura, a torcida sãopaulina era demasiadamente acomodada [pra se ter idéia, a "alfinetada" da Revista Placar (abaixo) é de 1979!]

O SPFC cresceria em torcedores só a partir dos '90

Mas, pra mim, valeu a tarde daquele domingo - não que eu morresse de amores pelo Estádio do Morumbi [pro meu gosto, ele, na grande maioria das vezes, foi um tanto gélido e impessoal, pouco aconchegante e nada hospitaleiro], mas mais pela rara oportunidade de ver tantas feras em campo, sem contar a figurinha carimbada que era o juiz, Sr Armando Marques

Dali há um mês, um mês e meio, com a conquista de mais um Ramon de Carranza, veio a confirmação que Leivinha e Luis Pereira iriam mesmo para o Atlético de Madrid: a [péssima] notícia li no JT, embora esporadicamente tb tivesse acesso às Revistas Placar, famosas por suas capas "mitolarescas" nas 3ªs feiras

Por mais que sentisse a perda, não posso concordar que o Verdão
os tenha "esnobado": a transação ocorreu por 70 milhões de pesetas!

E eu, criança ainda, suspeitava que o Palmeiras de encher os olhos estava [com tamanhas baixas] começando a se desmantelar, desgosto que, nos anos seguintes, infelizmente acabaria se confirmando

Palmeiras, que ainda ganharia o Estadual de 1976 antes de amargar a incômoda fila de 16 anos, iniciada, ironicamente, com o fim do jejum corintiano em outubro de 1977

Mas ao menos vivenciei o que era ir ao Morumbi, estádio onde, entre outros jogos, tb assisti, todo desconfortável e sob sol-a-pino, a finalíssima de 1984, onde Serginho Chulapa [ex-São Paulo] fez o gol solitário da partida que deu o título ao Santos contra um já desafogado [da pressão de títulos] Corinthians

Serginho que, aliás, apesar de ser o principal artilheiro da história do SPFC, estranhamente meio que "renega" seu passado e feitos no tricolor... Certamente, deve ter seus motivos, onde, numa visão simplista [bem simplista] (que me recuso, por experiência própria, a comprar) o lado renegado costuma dizer que houve "ingratidão"... Será?

Um ano antes desse 1984 - em 1983 - vim a saber que a alemãzinha que me paquerava [e eu a ela, diga-se] qdo fazíamos o Data Byte estudava ali, ao lado do estádio, no Colégio Visconde de Porto Seguro, próximo onde atualmente, nos primeiros domingos de cada mês, levo meu cão Noel para o Encontro Mensal dos Westies

Nosso romance não vingou pois ela iria para a Alemanha [na época, ainda dividida em Oriental e Ocidental, pelo já derrubado Muro de Berlim em 1989], fazer faculdade... Por lá acabou ficando, embora seus pais ainda morem no 22º andar do Edifício Copan

Deliciosas lembranças que o futebol - como linha do tempo - tem o condão de rememorar [e recosturar] em nossas vidas [num outro post, falarei sobre a experiência de ter ido ao Museu do Futebol, que fica no Estádio do Pacaembu, onde, aliás, fica a incômoda pergunta: "Que será desse simpaticíssimo estádio ante tantas arenas privadas?"]

Clique pra conhecer do Museu do Futebol, em meus vídeos no YouTube


Eis as escalações dos times naquele [inesquecível - e aqui imortalizado] dia:

PALMEIRAS 0 x SÃO PAULO 0

Local: Estádio "Cícero Pompeu de Toledo", Morumbi.

Palmeiras: Leão; Eurico, João Carlos, Arouca e Zeca; Edson e Ademir da Guia; Edu, Fedato (Ronaldo), Leivinha (De Rosis) e Nei.

São Paulo: Valdir Peres; Nélson, Paranhos, Arlindo e Gilberto; Chicão e Pedro Rocha; Terto, Murici, Mauro (Liminha) e Zé Carlos (Silva)

Árbitro: Romualdo Arppi Filho.

Renda: Cr$ 1.511.676,00

Público: 77.808 (77.656 pagantes)

PORTUGUESA DE DESPORTOS 1 x CORINTHIANS 1

Local: Estádio do Morumbi, preliminar do jogo Palmeiras x São Paulo.

Portuguesa: Zecão; Cardoso, Mendes, Calegari e Santos; Badeco e Dicá; Antonio Carlos, Enéas, Tata e Wilsinho (Adilton)

Corinthians: Solito; Zé Maria, Laércio, Ademir e Cláudio; Russo e Basilio (Nilton); Vaguinho, Adilson, Arlindo e Marco Antonio (Pita).

Gols: Enéas (5-1) e Marco Antonio (34-1).

Árbitro: Armando Marques

Naquele 03-08-75 estavam em campo [como jogadores] os hoje técnicos
Leão, Nelsinho Batista e Muricy Ramalho - e o vereador Ademir da Guia


Clique aqui pros posts mais recentes

Nenhum comentário: